Neste artigo, quero falar-lhe, caro/a leitor/a, de forma franca sobre o caminho espiritual. Não falarei de todos os aspectos, porque isso resultaria numa tese de doutoramento😜, mas há um aspecto que acho ser essencial.
De há uns anos para cá que se tornou comum equiparar o caminho espiritual ao sucesso material, e não me refiro apenas ao dinheiro, refiro-me ao sucesso no reino material. Este sucesso pode variar de pessoa para pessoa, consoante os seus desejos, mas regra geral tem de incluir os seguintes elementos: riqueza financeira, profissão com uma forte componente espiritual que dá um propósito à nossa vida e saúde física fabulosa e permanente (sem vícios ou desejos de chocolate/batatas fritas/outras malandrices). Depois destes aspectos estarem estabelecidos vêm os aspectos secundários, mas não menos importantes: estabilidade (quase) perfeita da parte emocional/mental, relacionamentos saudáveis e equilibrados, um relacionamento romântico com a alma gémea, saber exactamente qual é o nosso propósito divino, felicidade estonteante todos os dias, entre outros.
Todos estes aspectos que compõem a retórica dos livros/gurus/mestres espirituais da actualidade podem parecer pintar um quadro muito bonito e atraente, mas na realidade colocam uma fasquia tão alta e ilusória que acabam por derrotar o seu propósito original. Nós, consumidores desta retórica, vamos colando em nós conceitos espirituais que contêm em si os objectivos que enumerei acima e convencemo-nos de que é por eles que devemos lutar.
E, quando os dias se transformam em anos e nós, consumidores e seguidores, não vemos esses objectivos concretizados nas nossas vidas começamos a “inventar” justificações para tal: ou não somos talhados para o caminho espiritual, porque não compreendemos/percepcionamos o reino sobrenatural ou então convencemo-nos de que não temos as qualidades emocionais/mentais necessárias para atingir esse tal sucesso soberbo de que nos falaram existir. Achamos que temos demasiados vícios/defeitos de personalidade ou demasiados traumas e é por isto que a fórmula fantástica que nos apresentaram não funciona connosco.
Passemos então à parte franca deste artigo. Caro/a leitor/a, respeito a sua soberania de discernir o que é real e não é, e longe de mim querer impôr-lhe a minha visão, mas da minha experiência, devo dizer-lhe que estes objectivos são uma miragem. É uma miragem, porque falam dos aspectos da vida que normalmente atormentam as pessoas e alimentam a ilusão de que o caminho espiritual lhes trará as soluções (quase milagrosas) para eles. Se executarmos técnica “x”, se seguirmos o método “y”, se aplicarmos um conjunto de regras/condutas estruturadas, então as soluções virão. O problema é que estes objectivos, e subsequentes estratégias para os manifestar, são elaborados a partir de um olhar superficial sobre o Ser humano, a Espiritualidade e a Vida.
As preocupações que nos atormentam são superficiais, não por serem fúteis ou inválidas, mas porque só vêem a superfície da situação e não nos permitem ver mais longe dentro de nós. Criam uma associação entre a nossa infelicidade e as circunstâncias que vivemos. Ligamos a nossa infelicidade àquilo que achamos que falta na nossa vida. Não nos sentimos felizes, porque não temos o corpo que desejamos ou o emprego que queremos, o estilo de vida que precisamos, achamos tóxicas as pessoas à nossa volta, etc. Sentimo-nos presos dentro da nossa vida e a retórica espiritual de que iremos encontrar as soluções para estas agonias torna-se muito atraente, eu diria até “viciante”.
Convido-o a reflectir, caro/a leitor/a, sobre a quantidade de vezes por dia que se atormenta com aquilo que falta na sua vida. Pense agora há quanto tempo é que isto acontece. Talvez as circunstâncias tenham mudado ao longo dos anos e as causas das preocupações sejam ligeiramente diferentes, mas na verdade, resume-se tudo ao mesmo: há sempre uma ansiedade latente e permanente sobre os desafios que surgem na sua vida. Estes desafios tornam-se agonias que o/a atormentam a (quase) todas as horas do dia. Não é de admirar que quando entra (e continua) no caminho espiritual seja guiado por essa miragem e, a cada ano que passa, se sinta cada vez mais desolado/a de ainda não ter conseguido alcançar as metas que estabeleceu para si.
A questão aqui é mais simples do que se possa imaginar: o que é necessário é uma mudança de perspectiva. Em vez de focarmos a Espiritualidade em objectivos superficiais, vamos colocá-la na posição onde ela realmente pertence: um mapa para caminharmos de volta a Nós. É disso que se trata. Porque sejamos francos, caro/a leitor/a, o que é que realmente deseja na sua vida? Mais dinheiro? Segurança? Roupas giras para um corpo fantástico? Sentir um propósito de vida? Saúde física? Emoções equilibradas? Aquela pessoa especial? Por mais estranho que possa parecer, não é nada disto que desejamos, porque quando obtemos alguns destes desejos (e pessoas que o fizeram, podem confirmá-lo), mais tarde ou mais cedo, iremos voltar a sentir aquele vazio e ânsia de partir em busca de outra coisa.
Na verdade, se reflectir profundamente, o que todos buscamos resume-se a uma palavra: Paz. Aquela verdadeira Paz que, em menos de 1 segundo, nos permite relaxar o corpo completamente, calar a mente, e viver plenamente o momento presente, sentindo alegria no nosso coração e o gosto de estar vivo, mesmo que tudo caia à nossa volta. É isso que buscamos, é essa Paz. A Paz que nos permite sentir Esperança e Confiança na Sabedoria da Vida. A Paz de quem sabe que é a Alma, que está ligada ao Todo, que é profundamente amada seja qual for a sua história pessoal. Uma Paz que fala connosco através do Silêncio, lembrando-nos a cada momento de Quem Somos e do Potencial que reside em Nós. Uma Paz que nos permite sentir as presenças de Seres Divinos à nossa volta e a profunda Felicidade que isso traz. A Paz que nos faz dar gargalhadas sem motivo nenhum.
Porém, quando a nossa perspectiva é associar essa Paz a circunstâncias externas, quando a Vida nos corre “bem”, estamos “bem”, quando não corre, já estamos mal, iremos viver uma Espiritualidade utilitária. A Espiritualidade vendida actualmente é comercial e utilitária, porque coloca os seus consumidores a fazer a mesma pergunta uma e outra vez: de que forma é que “isto” me pode ajudar a obter o que desejo? E esta forma de viver a Espiritualidade não só é ilusória, como pode tornar-se prejudicial, porque irá sempre meter à frente da nossa cara tudo aquilo que ainda não concretizámos nesta vida, tudo aquilo que desperdiçámos, tudo o que não está “bem”. E o caminho espiritual torna-se um caminho de espinhos em que nos tornaremos tão sérios, tão sóbrios e tão “focados” que nos esqueceremos da simplicidade de um sorriso, de uma brincadeira ou da leveza de respirar sem contracções. É um caminho espiritual que nos aprisiona, porque afunila a nossa visão para objectivos muito específicos e que nos mantém um olhar superficial sobre a Vida e Nós próprios.
Na verdade, o caminho espiritual apresenta-se como uma forma de nos ensinar a manifestar aqui, na Terra e através de um corpo humano, os preceitos da Alma. E trabalhar continuamente a nossa parte humana para integrar esta energia e ensinamentos da Alma é algo que faremos a vida inteira. Quer aceitemos isso, quer não. Como disse anteriormente, respeito a sua soberania para discernir o que é real e não é, mas posso dizer-lhe, com franqueza, que insistir numa Espiritualidade utilitária irá apenas trazer-lhe mais tristeza e vazio, porque está a esforçar-se demasiado para atingir objectivos que não têm qualquer interesse para a Alma.
E, quanto mais caminhar em direcção à sua Alma, mais Ela lhe irá mostrar aquilo que é realmente importante e, se se entregar a esta busca e a esta viagem, irá verificar que a sua Vida se transforma para o/a colocar no sítio exacto onde é mais preciso/a. E, à medida que larga esses objectivos e se foca no caminho de volta a si, irá ver que tomar decisões acerca da sua saúde e do seu estilo de vida se irão revestir de confiança e de sincronia. Porque a transformação faz-se de dentro para fora e não de fora para dentro, tal como o material é moldado a partir da energia interior. Quando o interior se expande, as possibilidades para o exterior expandem também.
É uma mudança de perspectiva. É mudar o paradigma da pergunta “o que posso obter se fizer isto?” para a afirmação “Alma, mostra-me o caminho”. São abordagens completamente diferentes e o caminho espiritual, se tivermos de o resumir numa só palavra é, na sua essência, muito simples, na verdade é só isto: Entrega. Porque se formos sinceros na nossa abordagem, a declaração “Alma, mostra-me o caminho” requererá sempre o mesmo: Entrega. Onde quer que a Vida nos leve.
Entramos no comboio sem saber para onde ele vai e não saltamos pela janela a cada imprevisto 😉
Muita Luz,
Sofia
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One thought on “Viver uma Espiritualidade Sincera”