É um tema complexo, alvo de muitas teorias, que se vão refutando e substituindo por outras à medida que o tempo vai passando, consoante a cultura e as tendências mentais. Poderá discordar fortemente do ponto de vista que vou desenvolver nesta publicação, e aceito-o sem reservas, pois todos partimos de circunstâncias diferentes, educações diferentes e até culturas diferentes. Contudo, gostaria de o convidar a olhar para este texto como fonte de partilha, cuja intenção é dar-lhe possivelmente outra perspectiva, sobre a qual poderá ponderar e decidir em que pontos concorda e em quais discorda. Não há necessidade de discutir negativamente, mas sim de partilhar entre todos as nossas perspectivas, para que possamos evoluir em conjunto.
Considerar as crianças pequenos adultos coloca para mim um problema. O “adulto” é, de si, um conjunto de factores de amadurecimento biológico, padrões mentais enraízados, bem como hábitos emocionais persistentes, com uma panóplia complexa de intenções comportamentais. Uma criança, por definição, não partilha desta forma de ver e sentir o mundo, e ainda se encontra muito próxima da Alma, do ponto de vista energético. Assim, encontramos mais crianças sensíveis às energias dos ambientes e dos outros do que crianças que não o são (ou aparentemente, não o são). Ao tratar uma criança como pequeno adulto, estamos a conferir-lhe atributos de adulto que esta criança ainda não tem, o que pode criar uma relação deturpada. Quantas vezes ouvimos adultos dizer irritados que uma criança é manipuladora ou dissimulada? O problema que tenho relativamente a estas afirmações é que o adulto olha para a criança como tendo os mesmos atributos da “adultice”, e que a manipulação ou dissimulação presentes em comportamentos de adultos são as mesmas presentes nas crianças. Nada podia estar mais longe. As crianças precisam de testar limites, precisam de apalpar o terreno circundante, faz parte da sua evolução natural. Um adulto, quando usa manipulação ou dissimulação, tem uma intenção negativa de obter o que deseja prejudicando o outro, tendo uma clara desconsideração pelos seus sentimentos. A criança não tem este pensamento. Ela vê o que quer e experimenta várias tácticas para o obter. E se aprende que chorar e fazer birras lhe darão aquilo que quer, é o que fará. O problema é quando os adultos se irritam com este comportamento e se ofendem como se a criança os estivesse deliberadamente a desrespeitar ou a espezinhar os seus sentimentos. A criança aprende através da experimentação, ao nos irritarmos com estas tentativas estamos a exercer repressão, em vez de orientação. Estamos a ensinar que perante o desejo de obter algo que nos é recusado, a forma de lidar com essa frustração é reprimi-la em vez de ensinarmos a criança a navegá-la quando não é possível satisfazer o desejo primordial. O que me leva ao ponto seguinte.
Orientar uma criança pressupõe que nós próprios façamos a nossa própria viagem interior através das nossas emoções, padrões mentais e energéticos, com vista à nossa evolução. Quantos de nós se vêm aflitos quando se sentem contrariados, porque a onda de frustração interna é tão intensa que se mistura com raiva, desânimo e tristeza e parece quase impossível de controlar? Precisamente, porque não aprendemos a lidar com estas emoções de uma forma saudável. É tempo de começarmos a atravessar estes mares revoltos dentro de nós para que possamos orientar as nossas crianças para serem adultos equilibrados e com saúde emocional.
Por outro lado, contesto a ideia da “Nova Era” de que as crianças são Mestres Iluminados. É certo que são fonte de grande inspiração para os adultos, lembrando-nos de valores que possamos ter esquecido, como o olhar inocente, explorador e confiante. Podem ser fonte de mudança em nós também, quando se comovem com situações e nos lembram como é importante não sermos cínicos ou quando querem experimentar coisas que a nós nem nos passaria pela cabeça. Desafiam-nos e testam os nossos limites, podendo ser também um espelho para nós, vendo a forma como interagimos com eles sendo-nos revelado o ponto evolutivo em que estamos. Tudo isto é verdade, mas é preciso não esquecer que são crianças. É certo que encerram grande Sabedoria, mas esta está incluída num corpo físico em crescimento, cujas funções cerebrais, bem como funções energéticas de Chacras, são ainda básicas. Tal como nós. A nossa Alma é poderosa, infinita e totalmente positiva, mas está a passar uma experiência humana num corpo físico, rodeado de tridimensionalidade e várias influências externas.
Não é por acaso que as crianças não brotam da Terra automaticamente, mas nascem da união entre duas pessoas. É porque há necessidade de serem protegidos e orientados. “Largar” uma criança acreditando que esta encontrará o seu caminho quase sozinha, sem lhe dar acompanhamento ou alguma estrutura, é dizer-lhe que está sozinha no mundo. Nós, adultos, necessitamos uns dos outros para evoluir, o que dizer de uma criança em desenvolvimento?
É um texto longo, porque é um assunto complexo e muito mais há para dizer sobre ele, mas o que me parece mais importante a reter é que utilizar a raiva, a impaciência ou até a frustração para lidar com comportamentos mais desafiantes numa criança não conduzirá aos resultados que você gostaria. E o mesmo se aplica a usar energias de alienação ou desresponsabilidade mascaradas de dar liberdade à criança. Orientar é um equilíbrio difícil, com momentos mais afinados que outros, e é importante também aceitar que cometeremos erros e que teremos dias melhores que outros, mas se estiver presente em si próprio, com Consciência da sua própria evolução e da da criança, com intenção plena de a guiar com paciência através das tempestades e dos tsunamis internos, estará a ter uma influência positiva no crescimento dessa criança.
E, porque “criança” nesta publicação não se refere apenas a crianças do ponto de vista biológico, mas também à nossa criança interior, poderá tirar as suas ilações sobre a forma como também lida com ela, ou seja, consigo próprio. Sementes de Amor, Compaixão, Compreensão, Harmonia e Bondade, principalmente em momentos difíceis, são aquelas que darão o verdadeiro alimento que precisamos para o nosso Equilíbrio e Plenitude.
Seja livre, escolha em Consciência 😉
Muita Luz,
Sofia M.
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Faço leituras de cartas individuais: https://sofiamotamarques.wordpress.com/leituras-de-cartas/