Quando a mente está hiperactiva… meditação activa!

20150521_161212

Hoje em dia, parece que a resposta para todos os nossos problemas é a meditação. Está com stress? A Meditação fazia-lhe bem… A ansiedade não o larga? A Meditação é a melhor solução… Está com dúvidas se deve apanhar o comboio ou o autocarro amanhã? A Meditação dá-lhe a resposta certa… Para virtualmente qualquer desafio que esteja a ter na sua vida neste momento, é possível criar um slogan para si sobre as vantagens da meditação. No entanto, você continua a torcer o nariz e a única coisa que tenho a dizer sobre isso é… compreendo-o perfeitamente.

Olhamos à volta e a meditação parece estar na ordem do dia. Tem tantos benefícios e parece tão simples, que quase roça a magia. Então, porque é que não andamos todos a praticá-la? Talvez porque a publicidade que a meditação tem tido ao longo dos anos é vastamente mais prometedora e mágica do que depois na prática se comprova ser. Na prática, guardar 15 minutos para se sentar e se concentrar na sua respiração imediatamente a seguir àquela reunião em que todos argumentavam e ninguém se entendia, cedo se tornam 15 minutos de batalha contra uma mente hiperactiva, cuja nova obsessão é insistir em acalmar-se e encher-se de frustração por não o conseguir. E, subitamente, a ideia que tanto nos atraiu da pessoa sentada em plena serenidade, onde todos os problemas se diluem e ficam lá fora, enquanto se maravilha numa comunhão estreita com a sua Alma, parece um sonho tão longínquo como sermos contactados pela Nasa para uma viagem surpresa à Lua.

A verdade é que a meditação tem tido muitos textos escritos sobre ela, muitos métodos apresentados e muitas sugestões às quais pode aceder na Internet. Nada do que vou dizer neste artigo é propriamente revolucionário, no entanto, poderá ser surpreendente para si. Isto porque na grande maioria dos websites e revistas offline e online de Bem-estar, a meditação é praticamente apresentada da mesma forma. E estes métodos podem resultar com algumas pessoas, mas não para todas. E, mais importante ainda, pode resultar para alguns momentos em que algumas pessoas se encontram, mas não para todos. Confuso? Basta pensar em si próprio. O seu estado mental durante uma semana de trabalho intenso não será a mesma de quando está de férias, por exemplo. É por isso que mesmo as pessoas que num determinado momento conseguiram utilizar os métodos mais conhecidos de meditação a seu favor, passam depois alturas em que a prática parece uma tarefa de proporções titânicas. E é por isso que tantas pessoas já experimentaram praticar meditação e desistiram, porque saíram da experiência mais ansiosos e frustrados do que quando começaram.

A Meditação não tem de ser um bicho de sete cabeças, aliás, um dos seus objectivos é silenciar a cabeça, por isso é suposto ser um bicho sem cabeça alguma mesmo 😉 Na verdade, é muito simples: viver o momento no momento. O princípio por detrás de se concentrar na sua respiração é que enquanto observa as inspirações e expirações, a sua mente é obrigada a parar e a fazer essa observação. Quando a mente se distrai (e vai mesmo acontecer, por isso não se deixe engolir pela frustração, já que é inevitável), não é suposto batalharmos com ela, mas sim voltar a observar a respiração como se nada fosse. À medida que pratica, começa a criar espaços dentro da sua mente em que o silêncio fica cada vez mais presente, permitindo que consiga estar no momento sem ser distraído com este ou aquele pensamento. Esta é a base. E os métodos “passivos” desta base, como o da respiração que descrevi anteriormente, são os mais publicitados, mas não são os únicos. Diria até que nem sequer são os melhores para algumas pessoas e alguns estados mentais/emocionais. Posso dar alguns exemplos de casos em que não recomendaria estes métodos “passivos”: pessoas que se sentem ansiosas com frequência, pessoas hiperactivas, pessoas que sentem estar num estado constante de enervação (e que se irritam/sentem-se frustradas com facilidade), pessoas com depressão profunda ou a atravessar um momento especialmente emocional, pessoas sensíveis com tendência a episódios psíquicos (geralmente episódios negativos, que aumentam ainda mais a ansiedade e a insegurança) e para todos aqueles em que o mero pensamento de acender uma vela, meter música suave e sentar-se em completo silêncio é pior do que passar por cima de um tapete cravejado de alfinetes.

A Meditação é uma ferramenta espectacular, e o melhor de tudo… é gratuita se a fizer sozinho no seu próprio tempo. E posso dizer-lhe que sim, é mesmo a resposta para os nossos desafios. Não digo que lhe revelará o número do Euromilhões, mas só o facto de poder começar a largar a ansiedade, as sensações que lhe provocam mal-estar e o impedem de viver a sua vida em plenitude, começando a construir relações saudáveis com os outros e também consigo mesmo, só isso já começará a mudar a sua vida interior e, consequentemente, a exterior. Ainda não está convencido? Então, deixe-me falar-lhe de meditação “activa”.

A diferença entre meditação “passiva” e meditação “activa” é que enquanto na primeira o seu corpo se encontra totalmente imóvel, na segunda o seu corpo é convidado a participar na prática da meditação. Existem várias formas e, na minha opinião, o limite está apenas na sua imaginação. A única coisa a ter presente é… estar presente. Ou seja, a ideia é manter-se focado no que está a fazer naquele momento sem dar ouvidos aos pensamentos. A sua mente viajará pelas preocupações, responsabilidades e afazeres, principalmente numa etapa inicial da sua prática, e isso é perfeitamente natural. Nesses momentos, concentre-se no que está a fazer com o corpo e não entretenha os pensamentos, não tente encontrar soluções para os problemas que a sua mente está a referir e não acredite também em pensamentos desencorajadores. Sei o que é ter mil pensamentos destes por segundo, e é por isso que posso dizer-lhe que insistindo nestas práticas, estes pensamentos começam a surgir cada vez menos e com menor intensidade até um dia já não o afetarem por completo.

O método de meditação activa que gosto mais é dançar. Pois… um método complicadíssimo, não é? 😉 Quando dança, está a entrar em contacto com a sua Alma e através do movimento do corpo é mais fácil começar a viver no momento. Não significa que cada vez que tenha dançado no passado, que tenha meditado também. Como em qualquer actividade, também podemos dançar completamente distraídos de nós, absortos nos nossos pensamentos e embrenhados em activas discussões dentro da nossa cabeça. Mas, se juntar à dança a intenção de meditação, então pode começar a criar magia. A única intenção a ter é a que já referi antes: estar presente. Dançar ao som da música, mexendo o corpo e observando as suas reacções internas, sem entrar no jogo da mente entretendo pensamentos. À medida que ouve as notas da música e dança ao seu ritmo, observe as emoções que começa a sentir, o que pensa sobre si próprio e o mundo naquele momento. Tomar conhecimento do seu estado mental pode ter impacto sobre si mesmo, pode ser assustador ou até surpreendente. Independentemente do que experienciar, lembre-se do seu objectivo: o seu equilíbrio. Se se aperceber de desequilíbrio, está na sua mão caminhar em direção ao equilíbrio. Não ouça a sentimentos de culpa, medo ou desilusão. Nesse momento, agradeça a si próprio o gesto de auto-amor que está a manifestar.

E não tem de ser uma música calma ou clássica (mas se o quiser fazer, óptimo). Porque não a música “Holiday” dos Scorpions? É boa para quem está a começar (ou para quem quer experimentar meditação activa), pois começa de forma calma, depois mais forte e termina de forma calma novamente, e ainda são cerca de 6 minutos. Pode encontrá-la facilmente no Youtube, e mesmo que tenha uma casa cheia de gente e não consiga um espaço individual, pode ir à casa-de-banho com auscultadores e o seu telefone e dançar durante 3 minutos da música (se não se sentir à vontade para ficar os 6 minutos). Não há regras. Faça o tempo que puder da forma como puder, o importante é dar os passos e não se deter ao primeiro obstáculo.

E sabia que pode ouvir música de harpa que vai para além da clássica ou suave? Visite este canal do Youtube onde pode encontrar música dos Metallica, Iron Maiden, bandas sonoras de filmes como o Senhor dos Anéis e Piratas das Caraíbas ao som de harpas: https://www.youtube.com/user/CamilleandKennerly/videos

É óptimo para quem quer começar a entrar em sons mais suaves, mas ainda precisa de algum ritmo associado. Mais tarde, poderá começar a dançar ao som de outros géneros, como Chopin, por exemplo. Não force, avance ao seu ritmo, e aumente os momentos de silêncio dentro de si para começar a ouvir a sua verdadeira voz a alto e bom som. É em si que tudo começa e acaba. Com uma mente hiperactiva e ensurdecedora, você fica surdo ao seu verdadeiro Eu, mantendo-se sempre num ciclo interminável de preocupações, responsabilidades e uma vida monocromática, pois é neste território que a Mente é rei e rainha.

Aqui ficam outras sugestões de meditação activa, mas lembre-se de ter sempre a intenção de meditar, pois facilmente se pode distrair a pensar na lista do supermercado que ainda tem de fazer. Rapidamente, verá como começa a conseguir desfrutar dos pequenos (e grandes) prazeres da vida e de como está realmente presente para as pessoas que ama, bem como para si próprio:

– Brincar com crianças ou animais;

– Ao andar na rua, tire alguns minutos para se concentrar nos seus pés e no seu movimento, a forma como assenta o calcanhar no chão e empurra o solo, a pressão de um pé vs. a pressão do outro. Observe visualmente este movimento ao mesmo tempo que se concentra nas sensações nas suas solas e também como as vibrações sobem pelas pernas;

– Quando estiver a ver televisão, pouse uma mão sobre o cotovelo oposto, e com as pontas dos dedos indicador e do meio, dê dois “passos” com os dedos para baixo (na direcção do pulso) e um “passo” para trás. Continue até chegar ao pulso e repita três vezes ou mais;

– Numa folha de papel em branco, comece a rabiscar com um lápis. Siga aquilo que sente. Estes rabiscos podem ser longas linhas ao longo do papel, podem ser riscos curtos, podem ser pontinhos, podem ser bolinhas, não interessa. Não é suposto criar uma obra-prima (mas se acontecer, parabéns!), mas sim estar concentrado no que está a fazer. Preencha tantas folhas de papel quantas quiser durante o tempo que puder (e enquanto for aprazível fazê-lo, se ficar aborrecido ou inquieto, mexa o corpo ao som de uma música ritmada e solte a tensão);

– Mantras. Pode parecer estranho, mas a repetição contínua do mesmo mantra é uma prática muito poderosa. Recomendo as versões da Deva Premal, porque não incluem cânticos, os mantras recitados têm apenas uma leve melodia. Um dos meus preferidos é “Om Gam Ganapataye Namaha”, do álbum “Mantras for Precarious Times”, basta seguir a Deva Premal e repetir ao mesmo tempo que ela. É excelente para a mente, pois terá de se concentrar mesmo para conseguir repetir o mantra uma e outra vez. Procure no Youtube este mantra recitado pela Deva Premal. As primeiras vezes podem parecer mais difíceis, mas se persistir, rapidamente vai perceber os imensos benefícios para a sua mente. Este mantra recita-se para remover obstáculos, por isso porque não colocar a intenção de remover os obstáculos mentais à manifestação plena do seu verdadeiro Eu? A sua sessão de meditação activa torna-se assim ainda mais poderosa 🙂 E, passado uns dias, vai dar por si a cantarolar dentro da sua cabeça nas mais diversas situações, porque a mente está a aprender novos hábitos e a repetição é uma das ferramentas mais potentes para criar esses hábitos saudáveis.

Estas são apenas algumas sugestões para lhe darem uma ideia do que pode fazer, mas você mesmo pode criar métodos de meditação activa para o ajudar a começar a silenciar a mente. E, pode ser que daqui a algum tempo, já lhe seja possível (e apetecível) sentar-se em silêncio, acender uma vela, colocar uma música suave e usufruir de um momento só seu, em comunhão plena com a sua Alma sentindo apenas Paz e Amor.

Muita Luz,

Sofia

Deixe um comentário